Para dialogar sobre tão atual e relevante assunto é essencial, primeiramente, esclarecermos o significado de fake News. Trata-se de uma expressão inglesa que se refere à notícias falsas publicadas por veículos de comunicação, especialmente os não tradicionais, como as redes sociais, como se verdadeiras fossem, propagando-se rapidamente e atingindo milhões de pessoas em curto espaço de tempo. Geralmente, com o propósito de legitimar um ponto de vista, ideológico, político, social ou econômico.
É um fenômeno global que prejudica indivíduos, empresas ou grupos sociais. Entendida ainda como: desinformação; pós-verdade; boato; falácia; conspiração; contra-conhecimento; pulha; engenharia social ou apenas mentira – tem chamado muito a atenção hodiernamente tanto que, em 2018, foi um dos temas mais buscados pelo eleitor brasileiro na internet.
Sobreleva destacar que no Brasil não há lei específica que criminalize a fake news. Há, no entanto, leis que punem algumas modalidades da mentira como a Lei nº 9.504 de 30/09/1997 a qual proíbe a divulgação de pesquisas fraudulentas e a Lei nº 13.488 de 06/10/2017 que proíbe o falseamento de identidade na internet para veiculação de conteúdos de cunho eleitoral. Existe, contudo, o Projeto de Lei nº 473/2017 que tramita no Congresso Nacional e visa criminalizar, especificamente, a prática de disseminação de fake news.
Para refletir, imaginamos que a física quântica permita uma viagem no tempo e, por meio do “Berço” de J. J. Benitez, consigamos realizar uma nova Operação Cavalo de Troia, a décima. Aliás, ‘Cavalo de Troia’ foi a primeira fake news da história, contada em Ilíada de Homero, quando Ulisses escondeu em um cavalo de madeira alguns guerreiros e resgatou Helena – aquela linda rainha de Esparta casada com Menelau – das garras de Páris filho do rei de Troia. Como sabemos, esse episódio ficou conhecido como o famoso “presente de grego”. Uma mentira muito bem urdida.
Entretanto, não vamos à Jerusalém, Nazaré ou à aldeia de Caná, na Galileia, como J. J. Benitez, nem a mesmo a Troia com a máquina do tempo. Vamos à Caverna de Platão. No exato momento em que Sócrates dialogava com Glauco e Adimanto – sobrinhos de Platão – sobre o que seria a Verdade.
Dito isto, retornamos à caverna de Platão e à nossa geringonça quântica. Lá ecoa a pergunta que assombra a humanidade desde tempos imemoriais: O que é a verdade? Sócrates, com seus olhos saltados, seu nariz chato e com a sua baixa estatura, responde magistralmente por meio da famosa metáfora da caverna. Em apertada síntese, ele argumenta que a verdade está na superação da ignorância e na análise racional, metódica e organizada de tal fenômeno. Para Sócrates, a obtenção do conhecimento da verdade está no mundo das ideias – real e sólido – e não no mundo sensível.
Resumidamente, detrai-se da alegoria platônica que os prisioneiros somos nós aguilhoados em nossas crenças; a caverna são as nossas percepções; as sombras são as distorções das imagens, ilusão da verdade, onde grassam as fake news; a saída da caverna o processo da busca da verdade e a luz solar a verdade em si.
Se fosse hoje, muito provavelmente, Sócrates não recorreria à maiêutica em sua linda metáfora. Até porque, hoje, o mundo é volátil, incerto, complexo e ambíguo, como quer o general Stanley McChrystal no livro “Team of Teams”. Ele não teria tempo para elucubrar toda a sua bela narrativa. Responderia a Glauco, simplesmente, que verdade é o contrário de fake news! Pronto. Resolvido.
Não! Não é tão simples assim. Ao ver-me digerindo seus ensinamentos, aquele humilde homem corpulento, descalço e de roupas velhas, filho de um pedreiro e de uma parteira, ridicularizado por Aristófanes, limitou-se a responder: “Conhece-te a ti mesmo”.
Mas Sócrates – indagou-o – e quando essas falsas ideias forem muito bem planejadas, tal como as fabricadas pelo Ministério da Verdade de George Orwell, responsável pela falsificação de livros, documentos e publicações? Ou ainda, quanto à máxima de Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Ah, você não vai compreender! Não é do seu tempo!
Eis que aquele homem com altivez e com toda a honestidade intelectual, em uma ágora pouco movimentada, sentencia: Só sei que não conheço George Orwell e nem Joseph Goebbels, entretanto “A verdade já está no próprio homem, mas ele não pode atingi-la, porque não só está envolto em falsas ideias, em preconceitos, como está desprovido de métodos adequados”.
Sócrates tem razão! Talvez seja exatamente isso, estamos encarcerados em nossa própria ignorância. As redes sociais são as grades dessa prisão de portas abertas de onde não queremos sair. O facebook e o instragram são as vitrines do narcisismo das pessoas e o dilema do mundo moderno. A caverna está repleta de fake news e não nos esforçamos para analisá-la. Gostamos da ilusão da verdade.
Bem, gostaria de ficar mais tempo em Atenas dialogando com aquele mestre do conhecimento, considerado o marco do desenvolvimento do pensamento, entretanto o meu tempo urge. Tenho que voltar à realidade brasileira. Então, como fazer para precaver contra os sórdidos ataques das fake news?
Para evitar tais ataques não se esqueça dos conselhos de Sócrates: Questione ao máximo, reflita e procure o conhecimento. Então, quando receber uma mensagem, leia o texto completo, não apenas o título; procure conhecer a sua autoria, talvez não tenha credibilidade; investigue o site, talvez não seja confiável; veja o vocabulário empregado, provavelmente esteja repleto de erros gramaticais; observe em que data o texto foi publicado; procure sair da caverna social e tenha zelo redobrado com o sensacionalismo.
Por fim, para livrar-se de vez das nocivas fake news, leia o último conselho de Sócrates “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância”, mal em que prosperam as notícias falsas. Busquemos sempre a verdade.
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