Neste artigo apresentamos dez operações da CIA que marcaram a atuação da CIA: para cada operação descrevemos o contexto histórico, os objetivos, os resultados alcançados pela agência e os demais protagonistas envolvidos.
Nosso propósito é oferecer uma análise equilibrada e baseada em fontes desclassificadas, estudos acadêmicos e investigações jornalísticas.
A Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) teve um papel decisivo — e por vezes controverso — na formulação e execução da política externa americana desde a sua criação, em 1947.
A CIA (Central Intelligence Agency) é a principal agência de inteligência civil dos Estados Unidos, responsável por coletar, analisar e disseminar informações de segurança nacional a autoridades do governo, com foco especial em ameaças externas ao país.
Em 1953, a conjuntura da Guerra Fria transformou a nacionalização das reservas petrolíferas iranianas — decidida pelo primeiro‑ministro Mohammad Mossadegh — numa crise internacional. O governo britânico, através da Anglo‑Iranian Oil Company (precursora da BP), pressionou Washington para intervir. O presidente Dwight D. Eisenhower autorizou a CIA, em parceria com o MI6 britânico, a executar a operação codinome TPAJAX (mais conhecida como Operação Ajax). A ação combinou campanhas de desinformação, suborno a líderes políticos e religiosos e o apoio a golpes de rua que desestabilizaram o governo de Mossadegh, levando à sua deposição e à restauração do poder do xá Mohammad Reza Pahlavi.
Para a CIA, o sucesso imediato foi estratégico: restabeleceu‑se o controle ocidental sobre o petróleo iraniano e garantiu‑se um regime pró‑Ocidente no Irã. Contudo, o resultado político de longo prazo foi adverso à imagem norte‑americana, contribuindo para ressentimentos que mais tarde alimentariam a Revolução Islâmica de 1979. Entre os demais atores estavam o governo britânico (MI6), frações militares iranianas e elites monárquicas. (Documentos desclassificados e estudos historiográficos fornecem evidências detalhadas sobre o envolvimento americano e britânico.)
A Operação AJAX é, para muitos analistas e historiadores, a mais emblemática dentre todas as operações da CIA — tanto em impacto estratégico quanto em notoriedade pública.
Por que ela é considerada a mais emblemática?
No início da década de 1950, o presidente guatemalteco Jacobo Árbenz implementou uma reforma agrária que atingiu diretamente propriedades da United Fruit Company, empresa com forte interlocução em Washington. Temendo um avanço de influências comunistas na América Latina e pressionado por interesses econômicos, o presidente Dwight D. Eisenhower autorizou a Operação PBSUCCESS em 1954.
Como parte de uma das primeiras grandes operações da CIA na América Latina, a agência treinou exilados guatemaltecos, desenvolveu campanhas psicológicas e coordenou uma campanha de subversão que culminou na renúncia de Árbenz.
O objetivo declarado era impedir uma Guatemala alinhada com a União Soviética; o resultado imediato foi a instalação de um governo militar pró‑ocidental. Para a agência, a operação representou um sucesso tático, mas originou profundas crises políticas e violações de direitos humanos nas décadas seguintes, incluindo uma guerra civil que durou mais de 30 anos. Além da United Fruit Company, participaram militares guatemaltecos exilados e elementos da diplomacia e inteligência dos EUA.
Em 1953, com a intensificação da competição ideológica e tecnológica com a União Soviética, a CIA lançou o Projeto MK‑ULTRA para pesquisar técnicas de controle mental e interrogatório. Autorizado pela direção da agência (incluindo, no início, o diretor Allen Dulles), o programa financiou experiências com LSD, privação sensorial, hipnose e outras metodologias em universidades, hospitais e prisões, muitas vezes sem o consentimento dos participantes.
Os objetivos incluíam desenvolver “séries de ferramentas” para extrair informação e resistir à lavagem cerebral. No curto prazo, gerou resultados questionáveis e informação experimental; no médio e longo prazos, expôs a agência a um enorme prejuízo reputacional quando, na década de 1970, investigações do Congresso (Church Committee) e comissões presidenciais revelaram abusos éticos e a prática de experimentos em seres humanos sem autorização. Instituições médicas e acadêmicas, bem como o próprio governo canadense em casos específicos, estiveram envolvidos em subprojetos.
Após a consolidação do regime de Fidel Castro e sua aproximação com a União Soviética, a Casa Branca considerou a remoção do governo cubano uma prioridade hemisférica. Em 1961, o presidente John F. Kennedy aprovou um plano — herdado de administrações anteriores e operacionalizado pela CIA — para desembarcar uma força de exilados cubanos treinados em território cubano, na chamada Baía dos Porcos.
O objetivo era provocar um levante que derrubasse Castro. O desembarque, porém, foi mal executado: a força invasora foi derrotada em poucos dias, sem que a população cubana entrasse em massa contra o regime. Para a CIA, o episódio foi um fracasso operacional grave e um revés diplomático que fortaleceu a relação entre Havana e Moscou, contribuindo para a escalada que culminou na Crise dos Mísseis de 1962. Exilados cubanos, assessores militares e setores da comunidade política norte‑americana foram atores centrais.
A Invasão da Baía dos Porcos é amplamente considerada o maior fracasso dentre todas as operações da CIA já realizadas.
Por que é vista como o maior fracasso?
No contexto de intensas mobilizações sociais e do movimento anti‑Guerra do Vietnã, a CIA implantou a Operação CHAOS para rastrear possíveis ligações entre movimentos internos e influências estrangeiras. Autorizada inicialmente por autoridades do Executivo durante o governo de Lyndon B. Johnson e expandida sob Richard Nixon, o programa acabou por ultrapassar restrições legais que proibiam a CIA de operações direta e permanentemente domésticas.
A CIA coletou, integrou e analisou informações sobre grupos estudantis, organizações pacifistas e outras entidades civis. Embora a agência alegasse preocupações com possíveis vínculos estrangeiros, as investigações do Congresso e a reportagem investigativa mostraram amplas violações de direitos civis e monitoramento indevido de cidadãos. O impacto para a CIA foi institucional: as revelações resultaram em reformas, maior supervisão legislativa e perda de legitimidade perante setores da sociedade americana.
Na década de 1970, regimes militares do Cone Sul coordenaram uma rede transnacional de repressão batizada de Operação Condor, destinada a perseguir, sequestrar e eliminar opositores políticos além das fronteiras nacionais. Embora a operação tenha sido liderada por serviços de inteligência sul‑americanos (DINA no Chile, SIDE na Argentina, etc.), evidências desclassificadas demonstram que agências dos EUA — inclusive por meio de cooperação e intercâmbio de informações — tiveram conhecimento e, em muitos casos, ofereceram apoio logístico e de formação.
Para a CIA, a participação teve motivações de contenção do comunismo; porém o resultado histórico foi a responsabilização por graves violações de direitos humanos, com milhares de desaparecidos e mortos. Além das agências locais, diplomatas, militares e atores políticos regionais compuseram a teia operacional da Condor.
A invasão soviética ao Afeganistão, em 1979, foi interpretada em Washington como uma oportunidade para desgastar a União Soviética em um teatro periférico. A administração Jimmy Carter autorizou noções iniciais de apoio; já sob Ronald Reagan o programa expandiu‑se substancialmente. A campanha conhecida como Operação Cyclone envolveu financiamento, armamento (incluindo, nas fases posteriores, sistemas antiaéreos Stinger), treino e apoio logístico aos grupos mujahidin por meio de intermediários — especialmente a Inter‑Services Intelligence (ISI) do Paquistão — e com financiamento coadjuvante de aliados regionais.
O objetivo imediato era expulsar as forças soviéticas; a retirada soviética, concluída em 1989, é um resultado que a CIA e muitos analistas apontam como um objetivo alcançado. Para a agência, a operação foi um triunfo geoestratégico na Guerra Fria. No entanto, a fragmentação da sociedade afegã e o surgimento de forças armadas não‑estatais e radicais foram efeitos colaterais duradouros. Entre os principais envolvidos estiveram a ISI, governos do Oriente Médio (como a Arábia Saudita), países aliados e atores não‑estatais afegãos.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001, a CIA ampliou sua gama de operações clandestinas e de inteligência: coleta de sinais, operações paramilitares, renditions extraordinárias e cooperações com forças especiais e agências parceiras. Essas ações se desenrolaram sob administrações sucessivas (George W. Bush, Barack Obama e posteriores), em teatros como Afeganistão, Paquistão, Iraque e em ambientes globais de terrorismo transnacional.
Os objetivos foram remover ou neutralizar redes terroristas e prevenir atentados. Para a CIA, houve sucessos significativos — captura e eliminação de alvos de alto valor, fragmentação de células terroristas —, mas também polêmicas: práticas de detenções extrajudiciais, uso de técnicas de interrogatório consideradas abusivas, e tensões diplomáticas com aliados. Parceiros essenciais incluíram o JSOC (Joint Special Operations Command), e agências estrangeiras de inteligência.
A busca por Osama bin Laden tornou‑se uma prioridade de segurança nacional desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Após anos de trabalho de inteligência — incluindo vigilância de fontes humanas e técnicas — a CIA localizou um complexo em Abbottabad, Paquistão. O presidente Barack Obama autorizou, em maio de 2011, uma ação de forças especiais planejada com extrema discrição: a missão dos Navy SEALs (DEVGRU/SEAL Team 6) resultou na morte de bin Laden.
Para a CIA, o resultado operacional foi inquestionável: a eliminação do principal líder da al‑Qaeda e um significativo triunfo simbólico na Guerra ao Terror. No entanto, a operação também gerou repercussões diplomáticas com o Paquistão e debates sobre soberania, procedimentos legais e o uso de forças especiais coordenadas por agências de inteligência.
Com o avanço da internet e das comunicações digitais, a CIA — em cooperação com a NSA e outros parceiros — expandiu capacidades de coleta de sinais e inteligência cibernética para rastrear ameaças transnacionais. Programas e acordos para interceptação de comunicações, cooperação com empresas de tecnologia e coleta massiva de metadados tornaram‑se parte da nova rotina da inteligência.
Em 2013, as divulgações de Edward Snowden expuseram a extensão dos programas de vigilância: interceptações de comunicações, cooperação transnacional e metodologias de coleta que atingiam tanto alvos estrangeiros quanto, em certos casos, cidadãos e líderes aliados.
O impacto para a CIA e para a comunidade de inteligência foi profundo — aumento da transparência forçada, revisões de políticas e debates sobre privacidade, além de danos reputacionais e diplomáticos.
Ao revisar estas operações, percebemos um padrão: ações que entregaram ganhos estratégicos imediatos ou táticos para os EUA, mas que frequentemente carregaram custos políticos e humanitários significativos. Como analistas e comunicadores, insistimos na necessidade de examinar tanto as justificativas oficiais quanto as consequências não intencionais. A história da CIA — como a de qualquer serviço de inteligência — é uma combinação complexa de acertos operacionais e lições éticas.
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