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Terras Raras

Terras Raras: o que são e importância estratégica

  • 17 outubro, 2025

O que são Terras Raras?

Terras Raras são um grupo de 17 elementos químicos com propriedades únicas, usados em tecnologias de ponta como smartphones, baterias, turbinas eólicas, veículos elétricos, armamentos e sistemas de defesa.

Quais são os elementos que compõem as Terras Raras?

O grupo inclui:

  • 15 elementos da série dos lantanídeos (do lantânio ao lutécio);
  • Escândio (Sc) e Ítrio (Y), que apresentam características químicas semelhantes.

Embora fundamentais para a tecnologia moderna, estes elementos ainda geram dúvidas sobre sua origem e relevância. Neste artigo, explicamos como surgiu a nomenclatura, o contexto histórico que levou à classificação desses elementos, seus variados usos e sua importância estratégia.

Origem do termo “terras raras”

O termo “terra rara” foi cunhado no século XVIII, quando um minerador encontrou uma rocha branca incomum na pedreira de Ytterby (Suécia), em 1788 — considerada “rara” pela sua novidade e chamada de “terra” por ser inicialmente pensada como óxido dissolvível em ácido. Em 1794, o químico Johan Gadolin nomeou a substância isolada como yttria, em homenagem à cidade de Ytterby. Ao longo do século XIX desenvolveu-se a descoberta dos 15 lantanídeos, e posteriormente incluíram-se escândio e ittrio entre os elementos classificados como terras raras.

Lista completa das substâncias classificadas como terras raras

Antes de compreendermos o impacto estratégico desses elementos, é essencial conhecer quais substâncias compõem o grupo das chamadas terras raras. A seguir, listamos todos os elementos reconhecidos como tal e suas subdivisões técnicas.

Tabela Periódica Lantanídeos Terras Raras

O conjunto conhecido como elementos de terras raras (REE) inclui:

Lantanídeos (15 elementos):

  • La (Lantânio)
  • Ce (Cério)
  • Pr (Praseodímio)
  • Nd (Neodímio)
  • Pm (Promécio)
  • Sm (Samário)
  • Eu (Europium)
  • Gd (Gadolínio)
  • Tb (Térbio)
  • Dy (Disprósio)
  • Ho (Hólmio)
  • Er (Erbio)
  • Tm (Tulio)
  • Yb (Itróbio)
  • Lu (Lutécio).

Elementos associados:

  • Sc (Scândio)
  • Y (Ittrio).

Classificação geológica:

  • LREE (light rare earths): La, Ce, Pr, Nd, Sm
  • MREE (middle): Sm, Eu, Gd, Tb, Dy, Ho
  • HREE (heavy): Er, Tm, Yb, Lu, e também Y

Breve história da descoberta e uso

O desenvolvimento científico em torno das terras raras está diretamente ligado à evolução da química moderna. Esta seção traz uma linha do tempo sobre como esses elementos foram descobertos e passaram a ser utilizados em diversas indústrias.

  • Século XVIII–XIX: isolamento de óxidos de Yttria, Lantânio e outros lantanídeos. Compreensão da série dos elementos evolui até 15 membros confirmados (elemento 61, promécio, sendo radioativo e raro na natureza).
  • Século XX: avanços na separação química e produção industrial. Até 1948, principais fontes: depósitos de areia monazítica no Brasil e Índia.
  • Anos 1950: África do Sul (Steenkampskraal).
  • Décadas de 1960–1980: pioneirismo nos EUA, com a mina Mountain Pass (Califórnia). A partir dos anos 2000, a China tomou liderança absoluta na produção e refino.

Propriedades e aplicações principais

Cada elemento de terra rara possui propriedades físico-químicas únicas, que os tornam essenciais em diversas aplicações tecnológicas. Nesta seção, exploramos suas principais características e os setores que mais dependem desses recursos.

Cada elemento apresenta características únicas (magnéticas, ópticas, eletroquímicas) e campos estratégicos de aplicação:

Nome Símbolo Nº Atômico Usos Principais
Lantânio La 57 Lentes ópticas, baterias NiMH, catalisadores de refino de petróleo
Cério Ce 58 Polimento de vidros, catalisadores automotivos, ligas metálicas
Praseodímio Pr 59 Ímãs de alto desempenho, corantes para vidro e cerâmica
Neodímio Nd 60 Ímãs permanentes (NdFeB), motores elétricos, turbinas eólicas
Promécio Pm 61 Aplicações nucleares e científicas (radioativo e raro na natureza)
Samário Sm 62 Ímãs de samário-cobalto, lasers, reatores nucleares
Európio Eu 63 Telas LED/LCD, fósforos para iluminação, marcadores de segurança
Gadolínio Gd 64 Contraste em ressonância magnética, blindagem nuclear
Térbio Tb 65 Fósforos verdes, ligas magnéticas, lasers
Disprósio Dy 66 Ímãs resistentes ao calor, veículos elétricos, reatores nucleares
Hólmio Ho 67 Lasers médicos e industriais, absorvedores de nêutrons
Érbio Er 68 Telecomunicações (fibras ópticas), lasers médicos e dentários
Túlio Tm 69 Lasers de baixa potência, equipamentos portáteis de raio-X
Itérbio Yb 70 Sensores de radiação, lasers, materiais para cerâmica
Lutécio Lu 71 Tomografia por emissão de pósitrons (PET), catalisadores

Outras aplicações relevantes incluem:

  • Adição em fertilizantes e ração animal (especialmente na China), para estimular crescimento de plantas e animais.
  • Aplicações médicas: contraste para ressonância magnética (Gd) e traçadores isotópicos, baterias nucleares (Pm).

Usos estratégicos e campos de aplicação

As terras raras desempenham papel fundamental em áreas sensíveis da economia global. Esta tabela resume como esses elementos se inserem em setores estratégicos e quais são suas principais utilizações por campo de atuação.

Campo Elementos mais relevantes Aplicações estratégicas
Defesa e aeroespacial Nd, Pr, Dy, Sm, Y, Gd Ímãs de alta performance, sensores, lasers, motores de precisão
Energia limpa Nd, Pr, Dy Motores EV, turbinas eólicas, armazenamento magnético
Eletrônicos e TIC Ce, La, Eu, Tb, Er Displays, fibras ópticas, semicondutores, discos rígidos
Saúde e medicina Gd, Eu, Y Imagens por ressonância magnética, lasers médicos
Indústria química Ce, La Catalisadores petroquímicos, fluoceratizadores, polimento
Agricultura Ce, La, outros LREE Fertilizantes e suplementos para produtividade animal

Principais países com reservas e consumo de Terras Raras

A geopolítica das terras raras envolve a distribuição desigual das reservas e da capacidade de produção. Aqui, analisamos quais países detêm os maiores estoques, quem lidera a produção e onde ocorre o maior consumo desses elementos.

Reservas conhecidas (estimativas até 2025):

  • China: ~44 milhões de toneladas (MAE)
  • Brasil: ~21 milhões t
  • Índia: ~6,9 milhões t
  • Austrália: ~5,7 milhões t
  • Rússia: ~3,8 milhões t
  • Vietnã: ~3,5 milhões t
  • Estados Unidos: ~1,9 milhões t
  • Groenlândia: ~1,5 milhões t
  • Tanzânia: ~0,89 milhões t
  • África do Sul: ~0,79 milhões t

É importante dizer essa lista de reservas conhecidas pode ser alterada conforme novas jazidas estão sendo descobertas.

Produção e consumo principais (dados recentes – produção em 2023–2024):

  • A China domina a produção global, com cerca de 81–90% do refino e extração.
  • Austrália: segundo maior produtor (~15% em 2018, cerca de 13 000 t em 2024).
  • Índia: produção ~2 900 t em 2024.
  • Rússia: ~2 500 t em 2024.
  • Estados Unidos: produção ~45 000 t em 2024.

Países consumidores:

  • China: consumo doméstico massivo, usa para exportação em produtos de alta tecnologia.
  • Estados Unidos, Japão, Europa, Índia: consomem principalmente ímãs, catalisadores e componentes eletrônicos, mas dependem do refino chinês.

Desafios geopolíticos e estratégicos

A dependência global em relação a poucos países produtores, especialmente a China, gera implicações geopolíticas significativas. Esta seção aborda os principais riscos e as estratégias adotadas para garantir o acesso seguro e sustentável aos REEs.

  • Monopólio de refino: a China controla cerca de 90% do refino global.
  • Riscos de exportação: restrições recentes da China às exportações de terras raras pesadas afetaram indústrias em países importadores.

Iniciativas de diversificação:

  • EUA: projetos em Wyoming, Texas, apoio do Departamento de Defesa, criação de reserva estratégica.
  • Índia: plano de investimento, suspensão de exportações para Japão.
  • Groenlândia: interesse internacional, mas sem produção operacional até 2025.

Considerações finais

Ao longo deste artigo, examinamos em profundidade o universo das terras raras, desde sua origem até seu papel geopolítico no século XXI. Esses elementos, fundamentais para a transição energética, a inovação tecnológica e a segurança nacional, revelam-se como ativos estratégicos de altíssimo valor. No entanto, seu acesso, exploração e refino ainda estão concentrados em poucos países, gerando vulnerabilidades e tensões internacionais.

Referências

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