O sistema russo conhecido como Perimetr, apelidado no Ocidente de “Mão Morta” (Dead Hand), representa uma das expressões mais radicais da doutrina de dissuasão nuclear desenvolvida durante a Guerra Fria. Longe de ser apenas uma anedota de manuais militares ou um conceito distópico, o sistema Mão Morta materializa uma estratégia de sobrevivência automatizada para o Estado russo diante de um cenário de colapso total provocado por um ataque nuclear.
Neste artigo, exploramos as origens históricas, os fundamentos técnicos e os debates contemporâneos sobre sua funcionalidade e relevância estratégica.
O Perimetr foi desenvolvido no início da década de 1980, em um contexto de crescente tensão entre a União Soviética e os Estados Unidos. Dois eventos foram decisivos para acelerar sua concepção:
A conclusão em Moscou foi inequívoca: seria possível que um ataque “decapitante” destruísse a cadeia de comando antes que qualquer contraofensiva fosse autorizada. O sistema Mão Morta surgiu como resposta a essa vulnerabilidade existencial.
O Perimetr é um sistema automatizado de comando e controle nuclear que pode autorizar o lançamento de mísseis mesmo na ausência de comunicação com o alto comando. Segundo fontes como o especialista Pavel Podvig e a Federation of American Scientists, ele é composto por:
Vale destacar que, de acordo com diversas fontes, o sistema não é totalmente autônomo: ele precisa ser ativado manualmente em momentos de crise, colocando-se em “modo de vigia”.
Apesar do alto grau de sigilo, diversos relatos jornalísticos e declarações de ex-oficiais confirmam a existência e a operação do sistema. Em entrevista à revista Wired (2009), o cientista russo Valery Yarynich, que participou do desenvolvimento do sistema, confirmou os princípios de funcionamento do Perimetr. Em 2018, um documentário da rede RT intitulado “Soviet Storm: Secrets of the Cold War” também abordou o tema.
Em 2011, o jornal The New York Times publicou uma matéria com base em documentos desclassificados do Departamento de Defesa dos EUA que faziam referência ao sistema com preocupação real sobre suas implicações para a estabilidade estratégica.
A Federação Russa herdou o sistema da União Soviética e, segundo análises da Nuclear Threat Initiative e do Center for Strategic and International Studies (CSIS), ele foi modernizado após 2009. Com a reformulação da doutrina militar russa em 2014, que passou a admitir o uso de armas nucleares em resposta a ataques convencionais existenciais, o papel do Perimetr voltou ao centro dos debates.
Curiosamente, a mão morta também funciona como ferramenta psicológica: por mais que não se saiba com precisão seu status operacional, sua mera existência desencoraja ataques de preempção.
O sistema Mão Morta levanta dilemas profundos no campo da estratégia e da ética militar:
Discutir o sistema Mão Morta é debater os limites da racionalidade estratégica e o legado da Guerra Fria que ainda persiste nas relações internacionais. Para estudiosos de geopolítica, decisores públicos e profissionais de defesa, entender o Perimetr não é apenas um exercício histórico, mas uma necessidade diante de um cenário global cada vez mais instável e tecnologicamente imprevisível.
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