Está ocorrendo em Glasgow, Escócia, a 26ª Conferência de Mudança Climática, a COP 26. Cerca de 190 países estão presentes discutindo ações que tornem possível reduzir o aquecimento global, dentro das metas estabelecidas no Acordo de Paris, conferência realizada em 2015. Muitas informações são apresentadas no evento e, se estivermos atentos aos discursos e painéis, poderemos presenciar o fenômeno da Desinformação.
O Brasil é um dos destaques do evento, muito devido ao seu protagonismo mundial em cobertura vegetal, biodiversidade e liderança global na produção de alimentos. O país está na COP 26 informando suas ações para combater o desmatamento e assim contribuir para a redução do aquecimento global. Ao mesmo tempo, a delegação brasileira está combatendo a desinformação praticada contra o agronegócio brasileiro no exterior.
Analisando os discursos das autoridades brasileiras e estrangeiras no evento, percebe-se muito da necessidade de defender a agricultura nacional pelos primeiros, enquanto há uma cobrança sistemática por “melhores práticas” do agronegócio brasileiro pelos estrangeiros. Não raras vezes, cobranças sem conhecimento real da realidade brasileira de produção, manejo e preservação ambiental. Tais cobranças, sem as devidas contextualizações e apresentação de dados reais, quando divulgados através de grandes grupos de mídias, principalmente na Europa, contribuem para a desinformação.
O estado de Mato Grosso, talvez hoje o maior expoente nacional na mescla entre agronegócio e biodiversidade (único estado brasileiro a possuir três biomas: Cerrado, Pantanal e Amazônico) enviou para a COP 26 uma robusta delegação, incluindo o governador do estado e a secretária de meio ambiente de Mato Grosso. Apresentando ações concretas de preservação da fauna e flora concomitantemente com produção agrícola de dar inveja aos maiores produtores mundiais de alimentos, a ênfase dos discursos está sempre nas ações que o estado realiza, contribuindo para uma cobertura vegetal de 62% do território do estado.
Ou seja, um dos objetivos centrais da forte presença dos setores público e privado do agronegócio brasileiro na COP 26 é melhorar a imagem do Brasil no cenário mundial. A reputação nacional em relação ao agronegócio sustentável nos últimos tempos tem sido arranhada pela associação às queimadas e desmatamento ilegal, e amplificadas por técnicas de Desinformação utilizadas por concorrentes do agronegócio brasileiro.
Desinformação é a utilização das técnicas de comunicação e informação para induzir a erro ou dar uma falsa imagem da realidade, mediante a supressão ou ocultação de informações, minimização da sua importância ou modificação do seu sentido.
A história dessa técnica é antiga. A Desinformação é praticada pelos serviços de Inteligência desde seu surgimento como atividade organizada. As grandes potências mundiais, principalmente após a 2º Guerra Mundial, desenvolveram a técnica de forma apurada.
Considera-se Desinformação umas das técnicas mais refinadas e complexas da atividade de Inteligência, uma vez que compreende diversos tipos de conhecimentos e relevante capacidade de operacionalização.
A Desinformação foi especialmente utilizada e aprimorada no período da Guerra Fria, e particularmente utilizada pela KGB, antigo serviço de Inteligência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Diversos eventos da história mundial ocorreram através de técnicas que tinham como objetivo enganar um país inimigo da verdadeira intenção de uma nação. Um dos casos mais famosos é um imenso cavalo de madeira utilizada pelos gregos para invadir a cidade de Tróia.
Mas é importante ressaltar que a técnica Desinformação não pode ser confundida com má informação, ou ainda como o fenômeno das Fake News.
Segundo Ion Mihai Pacepa, chefe do Serviço de Espionagem Romeno durante a Guerra Fria:
“Informar mal é uma ferramenta oficial de governo, reconhecível enquanto tal. Desinformar é uma ferramenta secreta de Inteligência, com a finalidade de outorgar uma chancela ocidental, não governamental, a mentiras de governo.”
Ainda, segundo Pavel Sudoplatov, vice-diretor do Serviço Soviético de Inteligência Estrangeiro:
“Na Rússia, pato, além de seu significado normal, é um termo para desinformação. Quando os patos estão voando, significa que a imprensa está publicando desinformação.”
Notamos, então, que a técnica Desinformação tem o objetivo de levar a erro um Centro Decisor. Ou seja, desinformá-lo. Fazer com que um governo, uma instituição, algum aparato estatal, incorra a erros de avaliação e tome decisões que de alguma forma beneficiem o patrocinador do ato de Desinformar. Erros de decisão que podem levar a prejuízos econômicos e sociais.
Retomando o contexto do COP 26 e relacionado ao conceito de Agroterrorismo, desenvolvido pelo Instituto Cátedra:
“Agroterrorismo é a sabotagem do agronegócio ou sistema alimentar nacional pela introdução deliberada de uma doença animal ou vegetal, bem como através de atos premeditados de interferência externa ou desinformação com o objetivo de causar perdas econômicas ao agronegócio brasileiro”.
Voltamos então ao papel das autoridades brasileiras e produtores nacionais na defesa dos interesses do Brasil na COP 26. Combater a Desinformação é combater um aspecto do Agroterrorismo, fenômeno consolidado e tratado como estratégico pelos grandes concorrentes do Brasil na produção mundial de alimentos.
Vamos analisar um caso hipotético.
Imaginemos que um ator estrangeiro, um país concorrente do Brasil no agronegócio, por exemplo, com objetivo de prejudicar as exportações brasileiras de commodities agrícolas, poderia utilizar a técnica Desinformação para influenciar centros decisores. Isso seria possível?
Vamos analisar a sequência de imagens a seguir:
Foto antiga, veiculada como recente, de uma queimada na floresta Amazônica.
Imprensa nacional e internacional repercute o fato.
França pressiona União Europeia (Centro Decisor) para cancelar o acordo comercial com o Mercosul.
Observando o caso hipotético acima, deveríamos refletir sobre algumas questões:
Isso seria possível? O caso seria um exemplo de Desinformação contra o agronegócio e interesses nacionais? Existem interesses financeiros por trás de tudo isso? O acordo União Europeia e Mercosul poderia ser cancelado ou rediscutido em detrimento dos interesses do Brasil, e em prol dos produtores franceses? Embargos à produção brasileira poderiam surgir? Em decorrência, emprego e renda poderiam desaparecer de regiões do Brasil?
É claro que o Brasil tem muito a avançar em questão de preservação ambiental e sustentabilidade. Mais que isso, é um desafio equilibrar o uso inteligente e econômico da terra e da biodiversidade brasileira de modo a preservar, gerar emprego e renda, e manter as riquezas nacionais para as gerações futuras.
Contudo, seria ingenuidade não acreditar que por trás de todas as cobranças internacionais não existem interesses difusos. A técnica Desinformação é antiga e sofisticada. O Brasil, no teatro mundial da diplomacia apoiada pelos serviços de Inteligência, ainda pode ser considerado um jovem frente aos líderes globais.
É preciso defender os interesses nacionais contra a Desinformação, Agroterrorismo e demais ameaças que se apresentam. É um jogo de xadrez. A presença brasileira maciça, particularmente nesta edição da Conferência do Clima, a COP 26, é bastante estratégica para os tempos atuais.
Trata-se de um palco onde ações e estratégias são apresentadas, recursos são levantados, ideias são compartilhadas, e o combate à Desinformação contra o agronegócio brasileiro ocorre no corpo a corpo.
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