fbpx
Anonimização capa blogpost

Anonimização em Investigação Digital

  • 10 janeiro, 2024

No cenário contemporâneo marcado pela era da Big Data, a anonimização em investigações digitais surge como um tema de essencial importância. À medida que a quantidade de dados gerados e coletados aumenta exponencialmente, impulsionada pelo avanço da tecnologia digital, as questões relativas à proteção de dados pessoais e à privacidade se tornam cada vez mais prementes.

A era da Big Data não apenas viabilizou o armazenamento e processamento de quantidades massivas de informações, mas também ampliou os horizontes para a análise de dados em diversos campos, desde o marketing até a segurança pública. Entretanto, esta quantidade de dados frequentemente contém informações sensíveis e pessoais, cuja exposição ou uso indevido podem resultar em consequências significativas tanto para os indivíduos quanto para as organizações.

A análise aqui proposta busca compreender as implicações legais e os desafios técnicos da anonimização em investigações digitais. Será dada especial atenção à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil, que impõem novos padrões para o tratamento de dados pessoais e influenciam as práticas de anonimização.

Conceituando Anonimização

Anonimização é o processo de transformar dados pessoais ou confidenciais de forma que a pessoa a quem os dados pertencem não possa ser identificada. Esse processo é fundamental em diversas áreas, especialmente naquelas que lidam com grandes quantidades de dados pessoais, como em pesquisa ou investigação digital, segurança pública, saúde e análise de dados para fins comerciais.

Na anonimização, informações como nome, endereço, número de identificação, IP e outros dados diretos que podem identificar uma pessoa são removidos ou modificados. Além disso, a anonimização também envolve a alteração ou remoção de outros tipos de dados, como informações demográficas ou padrões de comportamento, que podem, indiretamente, levar à identificação de uma pessoa. O objetivo é garantir a privacidade e a segurança dos dados, permitindo ao mesmo tempo que sejam utilizados para análises e pesquisas.

Aplicação de Técnicas de Anonimização no Contexto de Investigação Digital: Uma Abordagem Metodológica

A anonimização em investigação digital refere-se ao processo de ocultar ou remover identificadores pessoais em dados digitais para proteger a identidade das pessoas envolvidas, ao mesmo tempo em que se preserva a integridade e a utilidade dos dados para fins de investigação. Este processo é particularmente importante em contextos em que a privacidade e a confidencialidade são essenciais, como em investigações criminais, análises forenses digitais e pesquisas de segurança cibernética.

Ao examinar as características específicas que se destacam neste contexto, é importante não apenas identificá-las, mas também compreender a profundidade e a relevância de cada uma delas. São detalhes que, ao serem ressaltados, proporcionam uma visão mais clara e abrangente, permitindo uma apreciação mais precisa e holística das nuances e complexidades envolvidas.

Proteção de Identidade: A anonimização é usada para proteger a identidade dos indivíduos envolvidos em uma investigação, especialmente em casos onde os dados pessoais não são essenciais para a investigação. Isso é importante para cumprir com as leis de privacidade e proteger os direitos dos indivíduos.

Dados em Investigação Digital: Em investigações digitais, os dados podem incluir registros de navegação na web, históricos de localização, registros de chamadas, e-mails, mensagens de texto, e outros dados digitais que podem identificar diretamente ou indiretamente um indivíduo.

Técnicas de Anonimização: As técnicas podem incluir a remoção ou alteração de informações pessoais, como nomes, endereços, números de telefone, e outros identificadores únicos. Métodos mais avançados podem envolver a agregação de dados, onde informações individuais são combinadas para formar um conjunto de dados mais genérico e menos identificável.

Desafios: Um desafio significativo na anonimização em investigações digitais é manter um equilíbrio entre proteger a privacidade e preservar a utilidade dos dados. Se a anonimização for excessiva, os dados podem se tornar inúteis para a investigação. Por outro lado, uma anonimização insuficiente pode expor informações sensíveis.

Aspectos Legais e Éticos: A anonimização em investigações digitais também envolve considerações legais e éticas. É fundamental garantir que o processo de anonimização esteja em conformidade com as leis de proteção de dados e privacidade, como a LGPD.

Uso em Pesquisa e Desenvolvimento: Em pesquisa e desenvolvimento, a anonimização permite que os pesquisadores utilizem dados reais de forma ética, sem comprometer a privacidade individual.

Ferramentas de Anonimização: Existem diversas ferramentas e softwares que ajudam na anonimização de dados, oferecendo soluções automatizadas para remover ou alterar informações sensíveis.

A anonimização em investigação digital é um processo para proteger a privacidade e a confidencialidade dos dados, ao mesmo tempo em que permite que esses dados sejam usados de maneira eficaz e responsável em contextos investigativos e de pesquisa.

Análise da Anonimização de Dados à Luz da Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil: Perspectivas e Desafios

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil, sancionada sob o número 13.709 em 14 de agosto de 2018 e em vigor desde 2020, estabelece diretrizes para a coleta, uso, processamento e armazenamento de dados pessoais, tanto por entidades governamentais quanto por empresas privadas. Dentro deste contexto, a anonimização desempenha um papel vital, pois é uma técnica que permite às organizações utilizarem dados de forma mais flexível, ao mesmo tempo em que protegem a privacidade dos indivíduos. Aqui estão alguns pontos importantes sobre a anonimização sob a LGPD:

  • Definição de Dados Anonimizados: Segundo a LGPD, dados anonimizados são aqueles que, originariamente eram dados pessoais, mas passaram por um processo de anonimização de modo que o titular não possa ser identificado. Isso significa que, se a anonimização for irreversível, ou seja, se não houver uma maneira prática de reassociar os dados à pessoa, esses dados deixam de ser considerados dados pessoais sob a lei.
  • Uso de Dados Anonimizados: A LGPD permite o uso de dados anonimizados para diversas finalidades, como análises estatísticas e de pesquisa, sem a necessidade de consentimento do titular dos dados. Isso abre oportunidades para empresas e pesquisadores utilizarem grandes conjuntos de dados para insights e inovações, mantendo a conformidade legal.
  • Desafios Técnicos e Legais: Anonimizar dados de forma eficaz é desafiador. Os dados devem ser processados para remover ou modificar identificadores, de forma que não seja possível reidentificar o titular, nem mesmo com o uso de técnicas avançadas ou ao cruzar os dados com outras fontes de informação. Além disso, deve-se estar atento para as atualizações na legislação e nas interpretações da lei.
  • Responsabilidades e Penalidades: Se uma empresa processa dados pessoais e não cumpre com as obrigações da LGPD, incluindo as práticas de anonimização, ela pode estar sujeita a penalidades severas. Portanto, é crucial que as organizações garantam que seus processos de anonimização sejam robustos e em conformidade com a lei.
  • Diferença entre Anonimização e Pseudonimização: A LGPD faz uma distinção clara entre anonimização e pseudonimização. Enquanto a anonimização remove a possibilidade de identificação, a pseudonimização substitui identificadores por pseudônimos, mantendo a possibilidade de reidentificação sob certas condições. A pseudonimização ainda é considerada como tratamento de dados pessoais sob a LGPD.
  • Incentivo à Anonimização: A LGPD incentiva a utilização de técnicas de anonimização como uma maneira de reduzir os riscos aos titulares dos dados e promover o uso responsável de dados.

Em resumo, a anonimização é uma ferramenta importante na conformidade com a LGPD no Brasil, permitindo que empresas e organizações utilizem dados para inovação e análise, ao mesmo tempo em que protegem a privacidade dos indivíduos. Contudo, o processo deve ser feito de forma cuidadosa e em conformidade com as diretrizes legais para evitar riscos e penalidades.

Implementação de Estratégias de Anonimização de Dados no Âmbito da Segurança Pública

A aplicação da anonimização no setor de segurança pública para realizar análises fundamentais pode ser exemplificada de forma a contribuir para a formulação de políticas e estratégias efetivas. Isso é realizado mantendo-se em estrita conformidade com as leis de proteção de dados e assegurando o respeito à privacidade dos indivíduos envolvidos. Tal exemplo pode ser estruturado da seguinte maneira:

Uma agência de segurança pública, visando desenvolver estratégias mais eficazes de prevenção ao crime em uma grande metrópole, empreendeu uma análise detalhada dos padrões de criminalidade. Para tal, a agência iniciou a coleta de dados das ocorrências policiais, abrangendo informações como local, hora dos crimes, tipos de delitos, e descrições dos suspeitos. Esses registros, contendo dados pessoais tanto de vítimas quanto de suspeitos, passaram por um rigoroso processo de anonimização.

No processo de anonimização, a agência adotou medidas como a remoção ou alteração de identificadores pessoais, como nomes e CPFs, presentes nos registros das ocorrências. Complementarmente, as informações específicas como endereços foram generalizadas para níveis mais amplos, como bairros ou regiões, garantindo assim uma maior proteção dos dados. Um cuidado especial foi tomado com os dados das vítimas, aplicando-se uma camada adicional de proteção para preservar a confidencialidade e prevenir qualquer forma de estigmatização.

Além disso, a agência conduziu uma avaliação cuidadosa para assegurar que, mesmo após a anonimização, não fosse possível reidentificar os indivíduos a partir dos dados em conjunto com outras fontes disponíveis. Utilizando os dados anonimizados, a agência conseguiu realizar análises profundas para identificar padrões e tendências, como horários e locais de maior incidência de crimes específicos. Essas informações se mostraram fundamentais para o planejamento estratégico na alocação de recursos e na implementação de estratégias de prevenção ao crime.

Em alinhamento com as disposições da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a agência garantiu que a privacidade dos indivíduos fosse preservada durante todo o processo. Ao anonimizar os dados, ela pôde usar essas informações valiosas para fins de segurança pública sem infringir os direitos de privacidade. A agência manteve uma postura de transparência quanto à coleta e uso dos dados e assegurou que a anonimização fosse suficiente para prevenir qualquer possibilidade de reidentificação, cumprindo com a responsabilidade de proteger dados pessoais. Este caso exemplifica como a anonimização pode ser efetivamente aplicada no setor de segurança pública, equilibrando a utilidade dos dados para análises importantes e a proteção da privacidade individual.

O infográfico apresentado a seguir oferece uma visão detalhada e estruturada do processo em questão, permitindo uma compreensão abrangente e sistemática das etapas, mecanismos e fatores interconectados que definem o processo em análise.

 

Infográfico Anonimização

 

Este exemplo mostra como a anonimização pode ser empregada no setor de segurança pública para análises importantes, ajudando a formular políticas e estratégias eficazes, enquanto se mantém em conformidade com as leis de proteção de dados e se respeita a privacidade dos indivíduos.

Conclusão

A análise detalhada apresentada neste trabalho evidencia a importância crítica da anonimização no contexto da investigação digital em uma era dominada pela Big Data. Com o aumento exponencial no volume de dados, a necessidade de proteger informações pessoais e garantir a privacidade se torna cada vez mais imperativa. A anonimização surge como uma resposta robusta a este desafio, permitindo que os dados sejam utilizados de maneira eficiente para análises e pesquisas, sem comprometer a identidade e a privacidade dos indivíduos.

Este artigo destacou que, embora a anonimização seja uma ferramenta poderosa, ela não está isenta de desafios. Questões técnicas relativas à eficácia da anonimização e ao equilíbrio entre a utilidade dos dados e a privacidade requerem atenção contínua. Além disso, a conformidade com as legislações de proteção de dados, como a LGPD, impõe um quadro regulatório que demanda rigor e adaptação constante por parte das organizações e dos profissionais da área.

Desse modo, é imperativo que a comunidade de tecnologia da informação continue a desenvolver métodos de anonimização mais sofisticados e seguros, enquanto as autoridades reguladoras e as organizações devem trabalhar juntas para estabelecer práticas que garantam tanto a segurança dos dados quanto a sua utilidade. A evolução contínua das tecnologias de dados e as crescentes preocupações com a privacidade e segurança dos dados pessoais tornam a anonimização não apenas relevante, mas essencial no campo da investigação digital.

Texto por Clarindo Alves de Castro
Coordenador Instituto Cátedra

 

Referências

BIONI, Bruno Ricardo. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

JUNIOR, A. E. de A.; SANTOS, E. M. dos; ALBUQUERQUE, E. S. de. Segurança da informação em um instituto de pesquisa: uma análise utilizando a norma iso/iec 27002:2005. Bahia, 2014.

Magalhães, P. Requisitos e recomendações para o desenvolvimento e operação de um sgsi – abordagem com iso 27001/27002. Cibersegurança e Informática Forense, Instituto Politécnico de Leiria, Leiria, Portugal, 2021.

MARTINS, Guilherme Magalhães; FALEIROS JÚNIOR, José Luiz de Moura. A anonimização de dados pessoais: consequências jurídicas do processo de reversão, a importância da entropia e sua tutela à luz da Lei Geral de Proteção de Dados. In: DE LUCCA, Newton; SIMÃO FILHO, Adalberto; LIMA, Cíntia Rosa Pereira de; MACIEL, Renata Mota (Coord.). Direito & Internet IV: sistema de proteção de dados pessoais. São Paulo: Quartier Latin, 2019.

SOUZA, R. M. de. Implantação de ferramentas e técnicas de segurança da informação em conformidade com as normas iso 27001 e iso 17799. Campinas – SP, 2008. Disponível em: https://repositorio.sis.puc-campinas.edu.br/handle/123456789/15094.

Comente sobre este artigo