Esta matéria traz um panorama geral sobre a carreira de Inteligência e explora as possibilidades que a Atividade de Inteligência proporciona dentro de diversas carreiras profissionais. O objetivo é ajudar pessoas que estejam avaliando direcionar suas carreiras para a área da Inteligência. Boa leitura!
Este artigo é a 1ª parte sobre as Carreira na Atividade de Inteligência. Acesse aqui a 2ª parte: Tornando-se um Profissional de Inteligência: Áreas de Conhecimento
O vocábulo Inteligência, não de agora, está em alta. Fala-se muito sobre Inteligência de Negócios ou Competitiva, Inteligência de Dados, Inteligência Policial, Inteligência de Estado; até em fachadas de imobiliárias se observa a expressão Inteligência Imobiliária. Provavelmente, as imobiliárias que utilizam esse termo querem passar ao cliente a mensagem que elas possuem as melhores informações sobre a compra e venda de imóveis.
Para quem tem um certo conhecimento sobre as carreiras públicas, de pronto vinculará a carreira de Inteligência à Agência Brasileira de Inteligência – ABIN. Afinal, a ABIN é o órgão estatal federal responsável pela Atividade de Inteligência no Brasil. É a instituição por excelência que produz Inteligência, devemos dizer.
A ABIN é a única instituição pública que possui como produto final, como missão institucional, fornecer Inteligência aos decisores. Todas as outras instituições, mesmo que produzam Inteligência, o fazem para auxiliar sua missão institucional, que é outra.
Por exemplo, a missão da Polícia Militar é, entre outras, garantir a lei e a ordem suprindo a população com segurança pública. E, para tanto, ela utiliza a Atividade de Inteligência para otimizar seus esforços e entregar melhores resultados para a população. Assim, as polícias militares investem em capacitações na área de Inteligência para parte de seus servidores. Desta forma um policial militar pode seguir a carreira de Inteligência dentro da instituição.
Da mesma forma, a missão da Polícia Judiciária, seja a civil ou a federal, é, principalmente, investigar crimes. Para melhorar a produção de provas as polícias civis de todos os estados, sem exceção, e a Polícia Federal, possuem setores de Inteligência com policiais que devem estar em constante capacitação nas ferramentas da Atividade de Inteligência. Então, um policial civil, seja delegado, agente, escrivão, investigador, perito, bem como todas as carreiras da Polícia Federal, podem seguir uma carreira policial na área de Inteligência.
E uma empresa privada? Ora, a missão principal de qualquer empresa privada é gerar lucro. É obter resultado financeiro para seus sócios, acionistas e garantir emprego e renda para seus colaboradores. Fatores como responsabilidade social, ambiental e sustentabilidade são essenciais no mundo atual, claro. Mas sem resultado financeiro, a empresa fecha as portas. E para melhores resultados financeiros as empresas mais estruturadas cada vez mais investem em informação. Por que informação?
Porque, segundo Sherman Kent em sua célebre obra, Informações Estratégicas:
“Inteligência é informação. Informação útil e oportuna.”
E a Atividade de Inteligência fornece habilidades e conhecimentos para se obter estas informações estratégicas.
Exatamente o que as empresas precisam em um mundo cada vez mais competitivo: informações estratégicas. Assim, grandes empresas e multinacionais, de maneira geral, já possuem seus setores de Inteligência ou Informações, ou qualquer denominação similar. E, aquele profissional que avança na carreira de inteligência e desenvolve expertises na área de Inteligência, se credencia cada vez mais a estes cargos de Inteligência.
Então, se analisarmos a história recente, veremos que a Atividade de Inteligência, antes praticamente uma carreira de Estado, exclusiva de órgãos públicos, hoje está presente nas esferas pública e privada, com diversas opções de carreiras.
Adiante exploraremos um pouco a evolução histórica das carreiras de Inteligência e as oportunidades existentes no âmbito público e privado.
A Atividade de Inteligência é ferramenta do Estado para obtenção de informações estratégicas há séculos. Mas é durante a 2º Guerra Mundial que os procedimentos e métodos da Atividade de Inteligência são aprimorados e sistematizados. Logo após o fim do conflito mundial em 1945, estabelece-se outro conflito: a Guerra Fria.
Este período de forte antagonismo ideológico mundial fez com o que os países, quase em sua totalidade, aproveitando a expertise de Inteligência adquirida durante a 2º Guerra, criassem seus Serviços Secretos, ou Serviços de Inteligência. Começa, então, uma nova carreira dentro do aparato estatal: a carreira de Inteligência.
No Brasil, o primeiro serviço estruturado formal de Inteligência foi o Serviço Federal de Informações e Contrainformações – SFICI, criado em 1946. Basicamente, a mão-de-obra empregada era de militares cedidos e capacitados pela Escola Superior de Guerra – ESG – do Exército Brasileiro.
Com a evolução do SFICI e os desafios que a época determinava, viu-se a necessidade de melhorar a mão-de-obra de profissionais para suprir a carreira de Inteligência de forma contínua e mais profissional. Este foi o objetivo da criação da Escola Nacional de Informações (ESNI), em 1972. Uma escola civil, com o objetivo de capacitar agentes públicos civis e miliares na Atividade de Inteligência.
A ESNI deu lugar à Escola de Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência – ESINT, em 1999, ocupando as mesmas instalações da antiga ESNI. A ESINT é, atualmente, a escola de governo responsável pela formação de agentes públicos civis, prioritariamente federais, na Atividade de Inteligência.
Em 2018 surge o Instituto Cátedra. Com a missão de fornecer capacitações nas áreas de Inteligência, estratégica e segurança e ser a referência de instituição de ensino privada para as carreiras de Inteligência, gestão estratégica e segurança.
Com o fim da Guerra Fria, muitos serviços de Inteligência mundo afora se viram com uma mão-de-obra extremamente qualificada na área de Inteligência, porém, subutilizada. No Brasil, além da mudança no contexto global, houve a mudança no contexto interno brasileiro com a redemocratização em meados dos anos 80. Logo após, em 1990, o recém-eleito Presidente do Brasil Fernando Collor de Melo extingue o Serviço Nacional de Inteligência (o serviço secreto brasileiro à época) como um dos seus primeiros atos. À exemplo de outros países, o Brasil também passa a possuir uma numerosa mão-de-obra qualificada e ociosa nas carreiras de Inteligência.
Na mesma época, o mundo corporativo privado vivia uma revolução em gestão empresarial. Com os avanços das grandes multinacionais em conceitos de estratégia, gestão e marketing, estas empresas passaram a contratar pessoas com capacidade de realizar análises estratégicas. Muitas destas vagas foram preenchidas por agentes de Inteligência oriundos dos serviços secretos. A carreira de Inteligência passou a fazer parte do mundo privado.
Este foi o início do termo que hoje se muito utiliza: Inteligência Empresarial ou Competitiva. As análises tinham com foco movimentos futuros da concorrência, dos ambientes interno e externo de negócios com o objetivo de melhor orientar a tomada de decisão da alta direção.
Muitos profissionais das carreiras de Inteligência do Estado migram para a iniciativa privada. No Brasil e no mundo.
E não parou mais. Atualmente, praticamente todas as grandes corporações possuem um setor de informações estratégicas. Mesmo os setores destas empresas que trabalham especificamente com Inteligência de dados com o termo da moda Business Intelligence, precisam de analistas com capacidade maior que a habilidade computacional. Ou, melhor explicando, a habilidade de tratar os dados disponíveis é essencial. Mas a habilidade de tratar os dados disponíveis e indicar onde os dados não disponíveis estão, e obtê-los, é o diferencial que a Atividade de Inteligência pode fornecer.
Imagine um gestor de Recursos Humanos analisando diversos currículos para o setor de Inteligência Competitiva da multinacional X. Ciência de dados, Análise de dados, MBA em Marketing, por exemplo, são capacitações presentes em praticamente todos os currículos sobre sua mesa. Um currículo, porém, descreve as seguintes habilidades:
Se este gestor de Recursos Humanos estiver atento ao que estas habilidades significam e ao enorme potencial das mesmas, saberá que este se trata de um candidato diferenciado. As chances de chamar este candidato para uma entrevista presencial serão consideravelmente maiores. E estes conhecimentos são fornecidos pelas capacitações em Inteligência.
Como falamos acima, a ABIN, as polícias, órgãos de maneira geral que possuem alguma missão institucional vinculada à defesa ou segurança pública possuem setores de Inteligência formalmente estruturados. E para estar apto a ingressar nestes setores as capacitações em Inteligência são um pré-requisito. Mas há muitas outras carreiras públicas nas quais a Inteligência vem passando a fazer parte.
O Poder Judiciário, ao lado do Poder Legislativo, talvez sejam as duas últimas “fronteiras”, por assim dizer, a serem ultrapassadas pelo uso da Atividade de Inteligência como ferramenta de assessoramento da alta gestão. Isso porque, classicamente, a Inteligência no âmbito estatal nasce como ferramenta de assessoramento ao chefe do Executivo, o Presidente da República. No Brasil e no mundo.
Mas esta situação começou a mudar em 2019. Com a percepção de que a Inteligência é ferramenta essencial em diversas áreas que envolvem a tomada de decisão estratégica, o Poder Judiciário, através do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, edita a Resolução n. 291/2019 que dispõe sobre a instituição de Núcleo de Inteligência no âmbito dos Tribunais.
Em 2021, o CNJ edita a Resolução n. 383, de 25 de março 2021, que cria o Sistema de Inteligência de Segurança Institucional do Poder Judiciário, e afirma:
“A Atividade de Inteligência possibilita a efetiva integração e a interoperabilidade dos órgãos do Poder Judiciário com instituições de segurança pública e Inteligência, materializando princípios da Política Nacional de Segurança do Poder Judiciário.”
Então, neste exato momento, os tribunais de justiça dos estados, os tribunais federais, os tribunais eleitorais, tribunais regionais do trabalho, tem obrigação de estruturar seus núcleos de Inteligência. Serão diversas oportunidades para quem deseja ingressar nas carreiras de Inteligência no Poder Judiciário. Claro, para quem possuir os pré-requisitos: formação nas diversas áreas da Atividade de Inteligência.
Estamos falando em oportunidades potenciais para quem investir na carreira de Inteligência em dezenas de Instituições, como apresentado na tabela abaixo:
Instituição | Quantidade |
Tribunal Regional Federal | 06 |
Superior Tribunal de Justiça | 01 |
Superior Tribunal Federal | 01 |
Tribunal Regional Eleitoral | 27 |
Tribunal Superior Eleitoral | 01 |
Tribunal Regional do Trabalho | 25 |
Tribunal Superior do Trabalho | 01 |
Tribunal de Justiça Estadual | 27 |
Total | 89 |
Há ainda os Tribunais de Contas, que já possuem estruturas de segurança física que tentam exercer alguma atribuição da Atividade de Inteligência, mas, com a expansão dos núcleos de Inteligência nos demais tribunais pelo país, também devem criar estruturas mais específicas para as carreiras de Inteligência.
Portanto, são potencialmente mais de 100 instituições, contados os Tribunais de Contas, que formarão núcleos de Inteligência com necessidade de mão-de-obra qualificada na carreira de Inteligência.
O Poder Legislativo, através das casas legislativas nas esferas municipal, estadual e federal ainda carecem de uma iniciativa formal que fomente a atuação e formalização das carreiras de Inteligência. O pouco que se tem do uso da Atividade de Inteligência é através das polícias legislativas, quase unicamente existente no Congresso Federal. Nos estados e municípios esse papel é exercido pelas Polícias Militares. E são estes policiais militares que se capacitam na Atividade de Inteligência.
No Congresso Nacional também não há um núcleo de Inteligência. Porém, é do Poder Legislativo a função de controle e fiscalização do uso da Atividade de Inteligência pelo Poder Executivo. E essa fiscalização é realizada através da Comissão Mista de Controle de Atividade de Inteligência – CCAI, do Congresso Nacional. A CCAI é formada por seis senadores e seis deputados federais, além de diversos outros técnicos que operacionalizam os trabalhos. Estes técnicos, sejam de qual cargo público forem, conseguirão fazer parte da CCAI se possuírem alguma formação da carreira de Inteligência.
No âmbito estadual, o Poder Legislativo é exercido pelas Assembleias Legislativas estaduais. No momento em que escrevemos este artigo, não temos conhecimento de um núcleo de Inteligência estruturado e lotado permanentemente com agentes públicos capacitados na Atividade de Inteligência. O comum é existir a figura do “coordenador de Inteligência”. Comumente um oficial da Polícia Militar que permanece um tempo cedido à Assembleia Estadual. Ainda, a atuação deste coordenador na área de Inteligência costuma ser direcionada à segurança de áreas e instalações da própria assembleia. Muito longe do assessoramento qualificado que a Inteligência fornece.
Enfim, as assembleias estaduais ainda carecem de um setor de Inteligência formal. Mas isto deve mudar em breve.
Nas câmaras municipais, o atual estágio do uso da Atividade de Inteligência como ferramenta formal de assessoramento é ainda mais embrionário. De fato, não conseguimos apresentar um caso específico de câmara municipal que tenha investido nas carreiras de Inteligência em sua estrutura organizacional. Tampouco as figuras do coordenador de Inteligência existem na imensa maioria dos municípios. E, caso exista, mesma situação das assembleias estaduais: um policial militar cedido temporariamente exercendo a função de forma precária.
Mas esta situação do Poder Legislativo representa uma oportunidade. Da mesma forma que o Poder Judiciário recentemente tornou uma obrigação a criação dos núcleos de Inteligência e, por consequência, o fomento das carreiras de Inteligência, em breve o mesmo deve ocorrer com as assembleias estaduais e com as câmaras municipais.
O que interessa então é destacar o potencial de crescimento das carreiras de Inteligência no Poder Legislativo. Vamos lembrar, a Atividade de Inteligência é ferramenta de assessoramento qualificado para a alta gestão. É ferramenta para melhorar a tomada de decisão, aperfeiçoando, em último caso, a performance das políticas públicas. E o Poder Legislativo é formado, em muito maior número que ao de deputados, de assessores parlamentares e técnicos que formam as chamadas comissões parlamentares setoriais. Estas comissões tratam de temas estratégicos ou de grande interesse da sociedade.
Tomando como exemplo o estado de Mato Grosso, a Assembleia Legislativa Estadual possui, de forma permanente, quatorze comissões parlamentares, além das temporárias. Entre as permanentes, cita-se, por exemplo, as Comissão de Segurança Pública e Comissão de Agropecuária. Temas estratégicos, tratados pela Inteligência estatal desde sempre. A imensa maioria destes assessores parlamentares, como os técnicos, não possuem capacitação em Inteligência. Imaginemos então o valor que a expertise nas ferramentas da Inteligência pode agregar ao trabalho dos assessores parlamentares. Afinal, o trabalho final do assessor é assessorar! Exatamente o que as carreiras de Inteligência fornecem: assessoramento qualificado.
Desde que o famoso argumento “quem pode o mais pode o menos” foi utilizado para autorizar formalmente o Ministério Público de realizar investigações criminais, o uso da Atividade de Inteligência cresceu muito no Ministério Público (MP), federal e nos estaduais. Em maior ou menor grau e independente tamanho do estado, praticamente os 26 Ministérios Públicos estaduais (MPE), o Ministério Público do Distrito Federal e o Ministério Público Federal (MPF) possuem um setor de Inteligência.
E os MPs possuem, comumente, duas estruturas distintas com atuação de analistas de Inteligência. Os Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – Gaeco, responsáveis por investigações grandes e complexas, além de outra estrutura exclusiva para fornecer Inteligência para as promotorias ou para auxiliar o próprio Gaeco.
Em Mato Grosso, como exemplo, o MPE possui o Centro de Apoio Operacional e Segurança da Informação. Formado por agentes públicos com formação em Inteligência, a estrutura possui a divisão clássica da Inteligência: produção de conhecimentos; contrainteligência e apoio operacional. E possui o Gaeco.
No MPF, as possibilidades de atuação através da carreira de Inteligência são diversas. Isto porque o MPF está presente em todos os estados através das Procuradorias Regionais. Cada estado, no âmbito do MPF, pode criar seus Gaecos. Estados como Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro possuem seu Gaeco no MPF. Além dos Gaecos do MPE.
Novamente: para conseguir uma vaga nos setores de Inteligência dos MPs as capacitações das carreiras de Inteligência são pré-requisitos.
A Defensoria Pública de Mato Grosso (DPE/MT) é pioneira no Brasil no quesito Inteligência. Foi a primeira Defensoria Pública entre todos os estados brasileiros, incluindo a Defensoria Pública da União (DPU), a criar e estruturar formalmente um núcleo de Inteligência. E o Cátedra, com orgulho, fez parte desse marco para a instituição. Após a criação do núcleo de Inteligência, a DPE/MT contratou junto ao Instituto Cátedra o Curso de Pós-graduação em Inteligência Estratégica para capacitar 65 servidores.
A 1º turma já concluiu o curso enquanto a 2º Turma tem previsão de início para o primeiro semestre de 2023.
Este trabalho de vanguarda da DPE/MT vem ganhando destaque nacional e outras Defensorias Públicas têm vindo à Mato Grosso conhecer o projeto. Isso significa que, em breve, as demais instituições criarão seus setores de Inteligência e passarão a investir na carreira de Inteligência. Ou seja, servidores que possuem essas capacitações estarão em vantagem para conseguir estas vagas.
Estamos falando em oportunidades em 26 Defensorias Públicas dos estados e na Defensoria Pública do Distrito federal. Além destas, não deve demorar, a DPU também deve estruturar sua Inteligência.
Deixamos por último o Poder Executivo por ser nele que se encontram, ainda, o maior volume de vagas para as carreiras de Inteligência no setor público.
Como já mencionado, a Atividade de Inteligência, classicamente, nasceu para ser utilizada pelo chefe de Estado nas tomadas de decisão. Ou seja, pelo chefe do Poder Executivo. Além disso, como falamos, foi durante as grandes guerras que as técnicas e procedimentos de Inteligência mais foram refinadas. Primeiro pela Inteligência militar e posteriormente pelos serviços secretos civis.
O chefe das Forças Armadas é o presidente da República, ou primeiro-ministro, a depender do sistema de governo. Então, naturalmente, as carreiras de Inteligência se desenvolveram muito mais no Poder Executivo em relação aos outros.
Outro fator relevante também para a maior amplitude da Atividade de Inteligência no Poder Executivo é o fato que a ABIN, as polícias e as Forças Armadas se encontram nesse poder. Instituições que possuem carreiras de Inteligência desde sempre.
Mas existem oportunidades na Atividade de Inteligência em diversos outros órgãos do Poder Executivo que não são tão conhecidas.
A Lei 9.883 de 1999 criou a ABIN e instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN. Em 2002, através do Decreto nº 4.376 de 13 de setembro, o SISBIN foi regulamentado e atualmente é formado por 48 órgãos. A figura abaixo apresenta a atual formação do SISBIN:
Estes órgãos, para estarem aptos a serem incluídos no SISBIN, devem possuir alguma estrutura de Inteligência. Alguns órgãos contam somente com algum servidor que possui como uma de suas atribuições o elo com o SISBIN e os outros órgãos de Inteligência. Outros órgãos já possuem setores inteiros estruturados de Inteligência, com diversos agentes públicos capacitados.
O Ministério da Justiça, por exemplo, possui, além das polícias, a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Esta, por sua vez, possui seu setor de Inteligência.
Outro exemplo é o Ibama. Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o órgão possui forte setor de Inteligência em apoio às operações de fiscalização e repressão aos crimes ambientais no país. No Ibama, um servidor pode atuar na carreira de Inteligência tanto na sede, em Brasília, como nas Superintendências Regionais, presentes em todos os estados brasileiros.
Destaca-se, então, que todos estes órgãos possuem oportunidades para quem tem formação na Atividade de Inteligência. E estes são órgãos federais. As oportunidades das carreiras de Inteligência existem no Poder Executivo Estadual. Em todos os estados.
Como exemplo, na Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso existe o Núcleo de Inteligência e Operações Conjuntas (NIOC), realizando um papel similar à Inteligência do Ibama, mas em nível estadual. Mais uma oportunidade dentro da carreira de Inteligência para servidores da SEMA/MT e para outros servidores públicos capacitados na Atividade de Inteligência que podem ser cedidos para o NIOC. Estruturas similares devem existir em outras secretárias de meio ambiente nos demais estados brasileiros.
Em se tratando do Poder Executivo estadual devemos dar um destaque às Polícias Penais. Em dezembro de 2019 o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional nº 104 criando a Polícia Penal. Na prática, a transformação dos cargos dos agentes penitenciários em policiais penais, equiparados às carreiras das demais polícias do Brasil, mas com atribuições específicas.
Com a alteração na Constituição Federal, os governos estaduais puderam iniciar a transformação em seus respectivos estados. Como exemplo, em junho de 2022 a Assembleia Legislativa de São Paulo promulgou lei criando sua Polícia Penal. Em outubro de 2021 foi a vez do estado de Santa Catarina. Mato Grosso, julho de 2022. E os demais estados já o fizeram, ou estão por regulamentar sua Polícia Penal.
Esta nova carreira dentro do sistema penitenciário fortaleceu também a carreira de Inteligência no âmbito das Polícias Penais. Isso porque um dos grandes desafios da segurança pública nacional é o enfrentamento das Organizações Criminosas de base prisional. Os núcleos de Inteligência do Departamento Penitenciário Nacional e das Polícias Penais tem recebido relevantes investimentos. Isto significa maior necessidade de pessoal e de capacitações em Inteligência. Ou seja, uma enxurrada de novas vagas nas carreiras de Inteligência.
Em menor número, mas iniciando um processo de expansão, as prefeituras também começam a estruturar núcleos de Inteligência. Fortaleza é uma capital que possui um setor de Inteligência formal. Cuiabá, capital de Mato Grosso, é outra capital que possui uma iniciativa similar dentro da Secretaria de Ordem Pública. As carreiras de Inteligência têm relevante potencial de crescimento no executivo municipal. Afinal, a prefeitura de São Paulo e toda sua estrutura deve ser mais complexa que alguns países, por exemplo.
Uma iniciativa recente, realizada em dezembro de 2022, demonstra a expansão da Atividade de Inteligência no Poder Executivo municipal. Na cidade de Joinville, estado de Santa Catarina, ocorreu o I Simpósio Nacional de Inteligência Municipal de Segurança Local, onde diversas autoridades discutiram como a Atividade de Inteligência pode contribuir para a segurança pública em âmbito local.
Mais informações sobre o evento podem ser obtidas no endereço eletrônico Prefeitura promove Simpósio de Inteligência Municipal e Segurança Local – Prefeitura de Joinville.
Percebe-se, então, que as carreiras de Inteligência têm relevante potencial de crescimento no executivo municipal. Afinal, a prefeitura de São Paulo e toda sua estrutura deve ser mais complexa que alguns países, por exemplo.
Frisa-se, mais uma vez, que as oportunidades do SISBIN e nos executivos dos estados e municípios serão aproveitadas pelos profissionais que possuírem capacitações na Atividade de Inteligência.
No setor privado é difícil de falar em tipos de negócios específicos para as carreiras de Inteligência. Isso porque as habilidades que as capacitações em Inteligência fornecem aos profissionais são desejáveis para qualquer ramo de negócio. Lembramos, em último caso, o papel da Inteligência é uma assessoria qualificada através da obtenção de informações: úteis e oportunas para a melhor tomada de decisão. Qual empresa não precisa disso? (conheça o Curso Tomada de Decisão oferecido pelo Instituto Cátedra)
Porém, citaremos exemplos mais assertivos de vagas ou setores para os quais a formação em Inteligência tornará o currículo do candidato bem mais atraente para os responsáveis pelos processos de seleção de Recursos Humanos.
A Bayer, multinacional alemã dos ramos farmacêutico e químico, é uma das líderes mundiais na produção de defensivos agrícolas. Estes produtos, inclusive, impactam diretamente no custo dos produtos agrícolas, pois são caros. São apelidados, inclusive, de ouro líquido. Infelizmente, por esta característica, é grande o número de ocorrências de roubos de cargas de defensivos agrícolas em rodovias pelo Brasil.
Para enfrentar esta questão, a Bayer estruturou um núcleo de Inteligência. O setor é responsável pela prevenção de roubos dos produtos da empresa, evitar a disseminação de produtos adulterados no mercado, e pela interlocução com os órgãos de segurança pública. A empresa alemã investiu na carreira de Inteligência.
Do outro lado, os grandes produtores do agronegócio também possuem seus setores de segurança. Nestes aparatos, cada vez mais se contratam profissionais com capacitação em Inteligência. Prevenção contra o roubo de cargas, roubo de animais, invasão de áreas produtivas, agroterrorismo, são algumas áreas de responsabilidade destes setores. (conheça o Curso Agroterrorismo oferecido pelo Instituto Cátedra)
Outro ramo que investe muito na Atividade de Inteligência é o setor mineral, principalmente de extração de ouro. Em sua imensa maioria, as áreas de mineração se localizam em regiões inóspitas e um aparato de segurança se faz necessário.
Além do aparato de segurança, é desejável uma fluida interlocução com os órgãos de segurança pública. Quem costuma fazer este papel são os colaboradores dos núcleos de Inteligência ou segurança. Unidades que costumam estar agregadas nestas empresas.
Quando você adquire um seguro para seu carro ou para qualquer outro bem, é necessário preencher um longo questionário. A seguradora, de posse desse questionário, realiza uma avaliação de riscos. Ou seja, ela verifica o risco de segurar seu carro, frente à maneira como você cuida do seu bem. Se você guarda na garagem, se deixa na rua, se permite que seu filho de 19 anos dirija etc. Variáveis que podem indicar maiores ou menores possibilidades de a seguradora ter que arcar com um sinistro ou roubo do veículo.
E apesar de você fornecer estes dados e informações espontaneamente, as seguradoras também realizam, internamente, levantamentos mais amplos sobre você. Basicamente é feito um dossiê sobre sua pessoa. Uma Inteligência de Fontes Abertas e dados não facilmente disponíveis. E decide se irá ou não segurar seu bem, ou se ele será mais ou menos caro. Basicamente o que os bancos também fazem quando concedem empréstimos.
Quando um sinistro ocorre, e há alguma possibilidade de fraude, as seguradoras costumam contratar empresas especializadas na investigação destas fraudes. Aí está a oportunidade para quem investiu na carreira de Inteligência. Mais um campo. Tanto para vagas nas seguradoras, quanto nas empresas de investigação de fraudes.
Desde a promulgação da Lei nº 12.846 de 2013, Lei Anticorrupção ou também chamada Lei da Empresa Limpa, as empresas privadas passaram a se preocupar com o Compliance.
De forma simples, Compliance significa cumprir regras. O termo tem origem do verbo em inglês “to comply”, que significa cumprir, obedecer. Então Compliance significa seguir as leis, as normas e procedimentos internos das empresas, manter conduta ética com colaboradores, parceiros de negócios e entes públicos.
As multinacionais, em sua quase totalidade, e as grandes empresas nacionais possuem setores de Compliance. E, geralmente, este setor está vinculado à alta direção da empresa. Uma das atribuições destes setores é realizar investigações internas quando uma denúncia de descumprimento de lei está ocorrendo. Estas investigações podem também estar relacionadas com um ente externo, como um fornecedor.
Muitas destas investigações realizadas pelas empresas ocorrem de forma automática, sem precisar de alguma denúncia. Na verdade, estas investigações iniciais recebem outro nome: Due Diligence. Que nada mais é que o levantamento prévio de informações. Então, quando uma grande empresa deseja fechar um contrato com um fornecedor, ela realiza uma Due Diligence. Um levantamento de informações acerca desta empresa para averiguar, por exemplo, se ela já foi envolvida em escândalos de corrupção, fraude, ou qualquer fato desabonador.
Este tipo de levantamento é extremamente comum para o profissional de Inteligência. Através de alguns conhecimentos, como Inteligência de Fontes Abertas, um profissional pode realizar uma checagem eficaz em poucas horas.
Alguns casos podem exigir um maior aprofundamento das informações coletadas. Aí sim uma investigação mais complexa se inicia com, também, algo comum para as carreiras de Inteligência: Técnicas de Entrevista. Que, aliás, pode ser complementada com Engenharia Social. Outro conhecimento presente na Atividade de Inteligência.
O setor de Compliance, de posse das informações obtidas, pode sugerir à alta direção a não realização de um contrato. Ou, ratificar a decisão de contratar alguém. Afinal, com informação, a empresa ganha dinheiro, ou deixa de perder.
Tornaram-se então, os Compliances Corporativos, uma espécie de núcleo de Inteligência dentro das grandes corporações. Mas com outro nome.
E adivinha quem terá mais chance de conseguir uma vaga no setor de Compliance de uma empresa? Sim, você acertou: o profissional que possuir uma capacitação em Inteligência no seu currículo.
Então vamos citar como exemplo novamente a Bayer, multinacional alemã. Ela possui um setor responsável pela segurança em geral da empresa. Ela possui um setor de Inteligência formal. E ela possui o setor de Compliance Corporativo. A mesma empresa possui três áreas em que a formação em Inteligência terá destaque em um currículo quando avaliado pelos Recursos Humanos.
Grandes empresas, às vezes, além de possuir seu setor de Compliance, terceirizam parte do serviço. É comum a contratação de escritórios de advocacia que se especializaram na realização de investigações internas e levantamento de informações.
Na verdade, com a Lei Anticorrupção, o “mercado” do Compliance e os chamados Programas de Integridade foram absorvidos pela advocacia. Estes escritórios realizam a Due Diligence. Mas uma ínfima parcela dos advogados e bacharéis em Direto tem alguma capacitação em Inteligência. Inclusive, nos escritórios especializados, é comum encontrar no organograma da empresa ex-agentes públicos com alguma experiência em Inteligência ou investigação.
Outra área ligada ao Direito que crescerá muito e abrirá portas enormes para a carreira de Inteligência é a Investigação Direta pela Defesa, ou Investigação Defensiva. Dispositivo recentemente regularizado no Brasil, a Investigação Defensiva permitirá que o advogado da parte instaure uma investigação paralela, independente ao processo investigatório realizado pelo Ministério Público, por exemplo.
Este procedimento já é prática comum em países como Estados Unidos, Itália e Colômbia. No Brasil, além dos escritórios de advocacia, a Investigação Defensiva deverá ser amplamente utilizada pelas Defensorias Públicas. Com efeito, na Defensoria Pública do Rio de Janeiro já existe um núcleo dedicado à Investigação Defensiva.
A Investigação Defensiva é uma área que utilizará muito os conhecimentos da Atividade de Inteligência. As carreiras de Inteligência serão muito procuradas como mão-de-obra qualificada para os escritórios de advocacia que, logo, crescerão em número e especialização na área.
Quando se pesquisa como proceder uma Investigação Defensiva, é comum observar a citação dos procedimentos de colheita de depoimentos (técnicas de entrevista); pesquisa de obtenção de dados (Inteligência de Fontes Abertas); elaboração de laudos (relatórios de Inteligência); identificação de colaboradores ou testemunhas (recrutamento de fontes humanas); enfim, um campo aberto para os profissionais de Inteligência.
Outro ponto da regulamentação da Investigação Defensiva que gera oportunidades para quem possui capacitações em Inteligência é fato de que o dispositivo estabelece que o próprio advogado pode realizar a investigação, por conta própria, como também pode registrar um consultor técnico, como assistente. Esta vaga de consultor técnico é mais uma oportunidade para quem tem expertise em Inteligência.
De todo o exposto, verificamos que as possibilidades de atuação para quem investe na carreira de Inteligência são inúmeras. Dos mais altos cargos do aparato estatal às mais elevadas posições do mundo privado. Posições em grandes bancos, escritórios de advocacia, até nas áreas que mais se expandem atualmente no ambiente empresarial: Compliance Corporativo e Business Intelligence. Na ABIN e em instituições diversas dos três Poderes, no âmbito federal, estadual e municipal. Novamente, as possibilidades são praticamente infinitas.
As capacitações em Inteligência são ditas complementares. Isto significa que não há uma graduação em Inteligência. Diversas habilidades e conhecimentos são agregados à formação de cada profissional. Ou seja, qualquer profissional, de qualquer área de formação, pode seguir a carreira de Inteligência. Ou, ainda, permanecer em sua área de atuação profissional, mas melhorar seus resultados e aperfeiçoar sua tomada de decisão diária com as capacitações da Atividade de Inteligência.
No site do Instituto Cátedra você encontrará diversos cursos disponíveis, em diversas modalidades, para iniciar ou aperfeiçoar sua carreira na Atividade de Inteligência.
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